Na edição do Jornal Zero Hora de oito de Abril de 2017, a escritora e colunista Lya Luft publicou o artigo de opinião que estamos compartilhando no blogue!
O texto foi apresentado aos alunos a fim de aprimorar a escrita do gênero artigo de opinião e foi selecionado por se tratar de um assunto sempre importante e recorrente. Após a leitura, interpretação oral e escrita e demais questionamentos e posicionamentos por parte dos alunos, os mesmos puderam observar e constatar no texto de Lya Luft a estrutura do artigo de opinião. A partir do mesmo, foram destacadas as características e as etapas para compor um texto do gênero. Os alunos puderam elaborar argumentos e exemplos durante as discussões acerca do tema. Posteriormente elencaram um dos inúmeros exemplos de preconceitos existentes, infelizmente, em nossa sociedade contemporânea, e produziram individualmente o artigo de opinião .
DIREITO
DE TODOS E DE TODAS - Lya Luft
O mundo precisa remover essa nódoa medieval e grosseira da nossa cultura, que ainda atinge tantas mulheres
Já
inventaram – inventam demais sobre a gente – que escrevo sobre mulheres, que
falo para as mulheres... Só ainda não vi dizerem que escrevo como mulher. Mas
há muitos anos, querendo me elogiar, um crítico de renome escreveu que,
"embora sendo mulher, Lya Luft escreve com mão de homem". Naquela
época, ainda ficava aborrecida por um dia ou dois com essas eventuais
bizarrices. Hoje, nem cinco minutos. (Nem tudo piora com o tempo...). Afinal, o
que seria escrever com mão de homem? A alternativa seria: ou com coração de
mulher? Um mais grosseiro, outra mais delicada? Um mais lógico, outra em
devaneios? Um sobre temas importantes, outra sobre amenidades? Assisti a
palestras e seminários sobre o tema, aqui e em outros lugares do mundo, e não vi
chegarem a nenhuma conclusão razoável.
Mas,
nessa gangorra natural nas coisas da moda, umas sérias, outras fúteis, a
questão (grave) da mulher retorna sempre. Devo dizer – concordando com o que
escreveu outro dia Cláudia Laitano aqui na ZH – que em minha casa, talvez
sendo meu pai um intelectual liberal, nunca senti minha mãe inferiorizada,
ignorada, ao contrário: ali havia respeito e parceria. Nem eu, na escola, na
universidade ou na profissão, me senti submetida a algum patriarca. Talvez eu
fosse demais distraída, ou simplesmente o fantasma saiba a quem aparece. Nunca
trabalhei como funcionária de uma empresa: por estes dias, diante da minha
curiosidade meio incrédula, dois amigos empresários me afirmaram que, sim, no
início da carreira, muitas vezes a mulher ganha menos do que o homem, mas
depois, "conforme mostra suas qualidades, ela ganha o mesmo".
Quase
não acreditei: ah, então, quando a inferior mostra serviço, ganha o mesmo que o
mancebo, que, segundo essa afirmação, não passa por essa fase de experiência?
Que mundo absurdo, atrasado. Que mentalidade diminuta. Que heroínas temos de
ser nós, mulheres, se a sociedade do trabalho ainda pensa assim. Para não falar
das grosserias eventuais com colegas, com amigas, com namoradas, com
familiares, que se permitem isso, alguns trogloditas se achando o máximo. Apoio
as atrizes que apareceram com camisetas iguais "Mexeu com uma, mexeu com
todas" após incidente infeliz recentemente, numa grande empresa de
comunicação, e apoiadas por ela.
Há muito pelo que lutar, porque às vezes aparecem
manifestações patéticas de quem se diz "feminista": "sou
gostosa, tenho a boca vermelha, uso biquíni, mas sou capaz". Tenho de ser
gostosa? Usar batom cereja ou morango... ou não serei feminina?
O tema é sério e complexo, apesar das bizarrices e
folclores que eventualmente se constroem em torno dele: o mundo precisa remover
essa nódoa medieval e grosseira da nossa cultura, que ainda atinge tantas
mulheres. Para que o bom combate possa se concentrar em dignidade e
oportunidades para todos: velhos, crianças, homens, mulheres, de todas as
etnias, orientações sexuais e classes sociais.
Com tanta coisa dramática nos convocando em tantos
lugares e com tantas pessoas, violências indizíveis e brutais injustiças, ainda
teremos que exigir e provar que, mesmo sendo "diferentes", nós,
mulheres, deficientes, negros, brancos, amarelos, gays ou outros, temos direito
igual a manifestação, crescimento, oportunidade, realização e, sim, felicidade?
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