OLHA QUE COISA MAIS LINDA! Um pouco de poesia e um pouco de prosa
Por que vamos falar de Vinicius? A obra de Vinicius de Moraes é muito maior do que "Garota de Ipanema" e "Soneto de Fidelidade". O poeta escreveu, além de poemas, crônica, prosa e critica de cinema.
Os nomes dos mascotes dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, Vinicius e Tom, são uma belíssima homenagem aos poetas da Bossa Nova, Vinícius de Moraes e Tom Jobim.
O amor e a figura feminina estiveram entre os temas principais da poesia de Vinicius. Para iniciar a série de postagens selecionamos quatro poemas com a presença dessas temáticas.
É Tempo de Olimpíadas no Brasil e no mundo! É tempo de poesia! É sempre tempo de Vinicius de Moraes!
Os nomes dos mascotes dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, Vinicius e Tom, são uma belíssima homenagem aos poetas da Bossa Nova, Vinícius de Moraes e Tom Jobim.
O amor e a figura feminina estiveram entre os temas principais da poesia de Vinicius. Para iniciar a série de postagens selecionamos quatro poemas com a presença dessas temáticas.
É Tempo de Olimpíadas no Brasil e no mundo! É tempo de poesia! É sempre tempo de Vinicius de Moraes!
A MULHER QUE PASSA
Rio de Janeiro ,
1938
Meu Deus, eu quero
a mulher que passa.
Seu dorso frio é um
campo de lírios
Tem sete cores nos
seus cabelos
Sete esperanças na
boca fresca!
Oh! como és linda,
mulher que passas
Que me sacias e
suplicias
Dentro das noites,
dentro dos dias!
Teus sentimentos
são poesia
Teus sofrimentos,
melancolia.
Teus pelos leves
são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços
são cisnes mansos
Longe das vozes da
ventania.
Meu Deus, eu quero
a mulher que passa!
Como te adoro,
mulher que passas
Que vens e passas,
que me sacias
Dentro das noites,
dentro dos dias!
Por que me faltas,
se te procuro?
Por que me odeias
quando te juro
Que te perdia se me
encontravas
E me encontrava se
te perdias?
Por que não voltas,
mulher que passas?
Por que não enches
a minha vida?
Por que não voltas,
mulher querida
Sempre perdida,
nunca encontrada?
Por que não voltas
à minha vida?
Para o que sofro
não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero
a mulher que passa!
Eu quero-a agora,
sem mais demora
A minha amada
mulher que passa!
No santo nome do
teu martírio
Do teu martírio que
nunca cessa
Meu Deus, eu quero,
quero depressa
A minha amada
mulher que passa!
Que fica e passa,
que pacifica
Que é tanto pura
como devassa
Que boia leve como
a cortiça
E tem raízes como a
fumaça.
TERNURA
Eu
te peço perdão por te amar de repente
Embora
o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das
horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo
em tua boca o perfume dos sorrisos
Das
noites que vivi acalentado
Pela
graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago
a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E
posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não
traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem
as misteriosas palavras dos véus da alma...
É
um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E
só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E
deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático
da aurora.
MEDO
DE AMAR
Petrópolis,
1963
O
céu está parado, não conta nenhum segredo
A
estrada está parada, não leva a nenhum lugar
A
areia do tempo escorre de entre meus dedos
Ai que medo de amar!
O
sol põe em relevo todas as coisas que não pensam
Entre
elas e eu, que imenso abismo secular...
As
pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio
Ai que medo de amar!
Uma
mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo
Tanta
promessa de amor, tanto carinho para dar
Eu
me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco
Ai
que medo de amar!
Dão-me
uma rosa, aspiro fundo em seu recesso
E
parto a cantar canções, sou um patético jogral
Mas
viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço...
Ai que medo de amar!
E
assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço
Sou
como a última sombra se estendendo sobre o mar
Ah,
amor, meu tormento!... como por ti padeço...
Ai que medo de amar!
SONETO DE DEVOÇÃO
Rio de Janeiro ,
1938
Essa mulher que se
arremessa, fria
E lúbrica aos meus
braços, e nos seios
Me arrebata e me
beija e balbucia
Versos, votos de
amor e nomes feios.
Essa mulher, flor
de melancolia
Que se ri dos meus
pálidos receios
A única entre todas
a quem dei
Os carinhos que
nunca a outra daria.
Essa mulher que a
cada amor proclama
A miséria e a
grandeza de quem ama
E guarda a marca
dos meus dentes nela.
Essa mulher é um
mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na
moldura de uma cama
Nunca mulher
nenhuma foi tão bela!
Disponível em: viniciusdemoraes.com.br
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