OLHA QUE COISA MAIS LINDA...
SONETOS DE VINICIUS DE MORAES
Seleção de poemas do livro dos Sonetos de 1957
SONETO DE ANIVERSÁRIO
Rio de Janeiro ,
1954
Passem-se dias,
horas, meses, anos
Amadureçam as
ilusões da vida
Prossiga ela sempre
dividida
Entre compensações
e desenganos.
Faça-se a carne
mais envilecida
Diminuam os bens,
cresçam os danos
Vença o ideal de
andar caminhos planos
Melhor que levar
tudo de vencida.
Queira-se antes
ventura que aventura
À medida que a
têmpora embranquece
E fica tenra a
fibra que era dura.
E eu te direi: amiga
minha, esquece...
Que grande é este
amor meu de criatura
Que vê envelhecer e
não envelhece
SONETO DA ESPERA
Rio, abril de 1963
Aguardando-te,
amor, revejo os dias
Da minha infância
já distante, quando
Eu ficava, como
hoje, te esperando
Mas sem saber ao
certo se virias.
E é bom ficar
assim, quieto, lembrando
Ao longo de
milhares de poesias
Que te estás sempre
e sempre renovando
Para me dar maiores
alegrias.
Dentro em pouco
entrarás, ardente e loura
Como uma jovem
chama precursora
Do fogo a se atear
entre nós dois
E da cama, onde em
ti me dessedento
Tu te erguerás como
o pressentimento
De uma mulher
morena a vir depois.
Rio, abril de 1963
SONETO DA HORA
FINAL
Será assim, amiga:
um certo dia
Estando nós a
contemplar o poente
Sentiremos no
rosto, de repente
O beijo leve de uma
aragem fria.
Tu me olharás
silenciosamente
E eu te olharei
também, com nostalgia
E partiremos,
tontos de poesia
Para a porta de
treva aberta em frente.
Ao transpor as
fronteiras do Segredo
Eu, calmo, te direi:
— Não tenhas medo
E tu, tranquila, me
dirás: — Sê forte.
E como dois antigos
namorados
Noturnamente triste
e enlaçados
Nós entraremos nos
jardins da morte.
Montevidéu, julho
de 1960
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